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Entrevista: médico veterinário é fundamental no combate à tuberculose bovina e humana

Categoria: Notícias | Publicado em: 18/07/2017

A tuberculose bovina, uma doença causada pelo Mycobacterium bovis, foi o tema de entrevista realizada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul (CRMV/MS) com o médico veterinário Paulo Alex Carneiro. A doença causa consideráveis prejuízos econômicos e sociais, em virtude do impacto que produzem na produtividade dos rebanhos e dos riscos que acarretam à saúde humana. Neste contexto, Paulo Alex ressalta que o médico veterinário e sua atuação na Saúde Única é fundamental no combate à doença. 

O CRMV/MS ressalta que a tuberculose bovina é uma doença que requer notificação imediata de qualquer caso suspeito, devendo o médico veterinário notificar o Serviço Veterinário Oficial. O profissional que deixa de comunicar às autoridades competentes casos de enfermidades de notificação obrigatória está cometendo uma infração ética disciplinar, sujeitando-se a processos éticos e sanções disciplinares. 

Confira a entrevista completa:

Qual o objeto de estudo de seu doutorado?

Paulo Alex Carneiro: Nosso projeto de pesquisa para obtenção do PhD busca verificar a influência do agente da tuberculose bovina (Mycobacterium bovis) na incidência da tuberculose humana. Em outras palavras, nosso objetivo será identificar a ocorrência de tuberculose zoonótica no estado do Amazonas, assim como, identificar os principais fatores de risco, para ocorrência da enfermidade na região.
 
 
Qual incidência encontrada em tuberculose na região que está sendo estudada?
 
Paulo Alex Carneiro: O estado do Amazonas apresenta a maior taxa de incidência da tuberculose humana no Brasil. Em 2016 foram 67,2 casos a cada 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional de 32,4 casos a cada 100 mil. Com relação a tuberculose bovina, não existem estatísticas oficiais de incidência. Da mesma forma, não existem relatos de ocorrência de tuberculose zoonótica no estado do Amazonas, neste caso um resultado já esperado, uma vez que, o meio de cultura utilizado para o diagnóstico da tuberculose humana não favorece o crescimento do agente da tuberculose bovina (M. bovis), o que torna inviável o diagnostico da zoonose na prática.
 
Quais fatores foram encontrados para justificar a incidência?
 
Paulo Alex Carneiro: Para que a tuberculose ocorra, uma série de fatores de risco precisa ser combinada formando os quadros epidemiológicos. São três os quadros epidemiológicos mais comuns: exposição à mycobacteria, alta densidade populacional e baixo status socioeconômico, exposição a mycobacteria, má nutrição e quadro de baixa imunidade (AIDS) ou ainda exposição a mycobacteria, baixa ventilação, grande aglomeração e ausência de vacinação.
 
Os seus estudos sobre a tuberculose bovina estão sendo feitos nos Estados Unidos. Quais diferenças foram notadas em relação à doença no Brasil e nos EUA?
 
Paulo Alex Carneiro: Brasil e EUA encontram-se em estados bastante distintos. O Brasil possui um programa de controle e erradicação baseado na livre adesão por parte do produtor, com identificação e eliminação dos animais que reagem positivamente nas provas de sensibilidade de pele, infelizmente os resultados desse programa ainda estão abaixo das expectativas. Nos EUA a doença é praticamente considerada erradicada, os trabalhos com tuberculose bovina são realizados com maior intensidade no estado do Michigan (único estado que não possui o status de livre da doença), basicamente buscam estabelecer um rastreamento das cepas em âmbito molecular buscando identificar a origem e o caminho percorrido pelo agente causador. A diferença marcante com relação a epidemiologia da tuberculose bovina são as ações de controle da enfermidade na fauna silvestre (a população de cervos infectados é o principal fator que limita erradicação da enfermidade no estado). 
 
Como é o enfretamento e quais são as ações de combate da doença tanto da população quantos dos órgãos públicos nestes dois países?
 
Paulo Alex Carneiro: No Brasil, busca-se incentivar a certificação voluntária de propriedades, com ações de identificação e eliminação de animais doentes, na maioria dos estados, porém, sem compensação financeira para o produtor, o que no nosso ponto de vista tem sido um dos principais limitantes do programa brasileiro. Nos EUA, a quase erradicação da doença foi alcançada através de controle obrigatório da enfermidade associado às ações indenizatórias que procurassem minimizar as perdas do produtor, atingindo índices de prevalência nacional inferiores a 1% nos anos 40. Atualmente as ações de controle são basicamente vigilância passiva onde qualquer animal sob suspeita em matadouros tem suas amostras analisadas por métodos microbiológicos e molecular com rastreamento e busca ativa da enfermidade na propriedade de origem do animal e ainda o rastreamento obrigatório por identificação eletrônica de todos os bovinos criados no estado do Michigan. 
 
E em relação ao Amazonas e o Brasil? Quais diferenças foram notadas?

Paulo Alex Carneiro: A real situação da tuberculose bovina no estado do Amazonas é desconhecida, não existem informações produzidas a partir dos dados oficiais. De minha experiência atuando no PNCEBT (Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose) e pela observação dos relatórios de condenação de carcaças no estado, podemos inferir que a prevalência da tuberculose bovina varia de baixa nos rebanhos a média entre rebanhos. 
 
Quais são os ciclos de transmissão da tuberculose?
 
Paulo Alex Carneiro: A tuberculose humana tem como principal via de transmissão os aerossóis eliminados por pessoa infectada. Das pessoas que tiverem contato com o Mycobaterium, entre 10 a 30% desenvolveram a infecção, destes, 10% manifestaram a forma clinica da doença e 90% desenvolveram a latência, permanecendo portadores da doença sem sintomas clínicos até a ocorrência de um evento de baixa de imunidade que possibilite a reativação da mycobacteria.

Em bovinos, a transmissão da enfermidade é feita principalmente por via de alimentos contaminados, mas podendo ainda ser feita por via respiratória, nessa espécie um grande complicador ocorre quando o Mycobacterium bovis ultrapassa a barreira da espécie, alcançando animais silvestres que se tornam reservatórios da enfermidade, atuando como uma constante fonte de contaminação do ambiente.

Na tuberculose zoonótica, é preciso considerar que as vias de transmissão se tornam muito mais complexas com a possível interação entre homens, bovinos e animais silvestres. Sendo a principal via de contaminação para o homem os alimentos contaminados pelo M. bovis. Uma vez instalada a enfermidade zoonótica, porém, o homem passa a ser fonte de transmissão por via respiratória para outras pessoas, já havendo diversos relatos em literatura de transmissão direta de animais silvestres para o homem (caçadores). Todos esses fatores devem ser considerados principalmente nos casos de tuberculose humana que não respondem satisfatoriamente ao tratamento tradicional.
  
Quais medidas devem ser adotadas no combate à doença? Qual o papel do médico veterinário neste combate?

Paulo Alex Carneiro: No controle da tuberculose bovina, a ação do médico veterinário é fundamental desde o estabelecimento de uma estratégia de controle individualizada por propriedade, passando pela realização dos exames para identificação de animais reagentes, até a aplicação das ações de biossegurança, tais como desinfecção de instalações, implantação de quarentena e realização de exames na origem quando forem adquiridos novos animais.

A tuberculose zoonótica é considerada uma doença negligenciada pela Organização Mundial da Saúde, sendo desconhecida por grande parte dos clínicos que atuam no tratamento da tuberculose em pacientes humanos. Nesse aspecto, a estratégia de abordagem da Saúde Única com troca de informações de vigilância epidemiológica entre profissionais de saúde humana e animal, possibilita o desenho de programas de controle com otimização de recursos humanos, laboratoriais e logísticos, indispensável na solução desse problema de saúde publica, que é de fato interdisciplinar e não se restringe apenas à saúde humana ou animal. É necessário, portanto, esta interação entre Medicina humana e Medicina Veterinária.

Paulo Alex Carneiro é amazonense, com graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da Amazônia (1992), especialização em Metodologia do ensino superior pela Universidade do Amazonas (1997), graduação em Licenciatura pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1998) e Mestrado em Clínica Veterinária pela Universidade de São Paulo (2000). Estudante de PhD dp Programa Medicina Comparativa e Biologia Integrada em Michigan State University, foi coordenador do curso de Medicina Veterinária do Instituto Federal de Tecnologia do Amazonas (2013-14) e presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Amazonas (2001 -2014).

 

Fonte: Ascom/CRMV-MS


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